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quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Itan de Osun


Oxum era a filha preferida de Orumilá.
A menina dos olhos de seu pai. Quando a menina nasce , seu pai lhe deu as águas doces e cachoeiras para governar. Lhe deu a benção sobre as mulheres, a fertilidade, o cuidado sobre o feto. Oxum cresceu bela, meiga e mimada. Tinha o coração doce, mas cheia de vontades.
Quando estava na idade de se casar, os pretendentes logo apareceram às portas de Orunmilá. O primeiro foi Oxóssi, o caçador. Ele trouxe lindas peles, animais e abundância. Orunmilá achou que a filha seria feliz com um homem que proveria a mesa e era um grande caçador. E Oxum foi entregue a Oxóssi, indo com o noivo para a sua floresta. Em pouco tempo Oxum estava triste e deprimida. Oxóssi era forte, belo, vigoroso. Mas vivia pelas matas, buscando mais e mais troféus para os seu salão de caça. Além disso, Oxóssi era de modos rudes e não oferecera sequer um pente e um espelho à noiva. Chorando, Oxum mandou recado ao pai que encerrou o noivado.
O segundo pretendente foi Ogum. O grande general, o senhor dos exércitos de Oxalá. Era também um grande ferreiro. Oromilá pensou que com melhor guerreiro, Oxum estaria sempre protegida. Assim, mandou a filha ir passar um tempo com o noivo. Ogum também era forte, jovem, belo. Mas só pensava em guerra, estratégias, seus exércitos e suas espadas; era grosseiro e ríspido com Oxum e reclamava de sua vaidade que considerava um desperdício de tempo. Oxum chorou mais uma vez e o pai a trouxe de volta.
Os pretendentes continuavam a chegar, mas Oxum recusava todos com medo de sofrer novamente.
" Um dia um homem pediu abrigo às portas de Orunmilá - era pobre, um andarilho. Orunmilá iria dispensá-lo, porém Oxum compadeceu-se do peregrino e pediu ao pai que o recebesse. O homem banhou-se e ganhou roupas limpas, comeu, bebeu, descansou. Em agradecimento, fez uma trova que dedicou a Oxum. Quando a princesa ouviu, ficou encantada e mandou chamar o andarilho. O homem lhe recitou mais versos, contou-lhe histórias, até penteava os cabelos de Oxum, enquanto lhe cantava trovas. Um dia, o peregrino precisou ir embora. Oxum chorou, implorou ao pai que impedisse a partida do homem, contudo Orunmilá não podia prendê-lo, sendo que nada de mal fizera."
Oxum chorou muitas noites, olhando a lua, sentindo falta do humilde trovador. Orunmilá, querendo ver a filha esposada, cansou-se do choro de Oxum e mandou reunir os melhores partidos para que a filha escolhesse um marido. Orunmilá deu uma grande festa, mas Oxum, amuada em seu canto, não comia nem sorria, não queria saber de ninguém.
Então, Orunmilá exigiu que a filha escolhesse seu marido logo, ou então, ele, seu pai, o faria. Oxum, tremendo, olhava por entre os homens e nenhum deles a agradava. Eram ricos, poderosos, alguns até belos e fortes, mas nenhum lhe falara ao seu coração.

Então ela viu, entre os convivas o andarilho trovador. Oxum correu até o homem, levou-o até ao pé do trono de Orunmilá e pediu que cantasse. O andarilho cantou, declamou lindos poemas, todas para Oxum. A princesa, em lágrimas, disse ao pai que ele era o marido que ela desejava. Orunmilá, os convidados e toda a corte riram, onde já se vira, a filha do rei casar com um mendigo! Oxum insistia, defendendo o peregrino contra o desdém dos demais. Então um grande trovão soou e o peregrino foi atingido por um raio. Para grande surpresa e espanto de todos, o mendigo transformou-se em Xangô, o senhor da Justiça, o maior juiz de Yorubá.

Orunmilá perguntou-lhe por que ele não se apresentara como realmente era, desde o início.
Xangô explicou que não queria apenas o corpo, nem o dote de Oxum, queria uma mulher que fosse justa como ele, por isso, disfarçou-se de andarilho, preferindo conquistar o coração da mulher pela arte e sensibilidade. Ele agora tinha certeza de que Oxum era a sua rainha verdadeira, pois ela o amava por suas qualidades e não por sua realeza ou dotes físicos. Orumilá abatido pela sabedoria de Xangô, deu-lhe a mão de sua filha. Xangô levou Oxum para o seu reino, em Oyó, onde ela foi coberta de carinhos dengos, sedas, doces e brinquedos. Xangô cumulou-a de bondade, amor e mimos É tornou a também a rainha do Ouro, da prosperidade
Oxum Nunca mais chorou de tristeza só de emoção
É aprendeu a cantar todas as trovas de Xangô a quem jamais deixou...

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

Itan de Osala


Olodumaré, Senhor Supremo dos Nossos Destinos, também conhecido como Olorum, Senhor do Orum, criou o primeiro dos Orixás, o Oxalá. E deu-lhe a incumbência de criar o mundo, entregando-lhe o saco da criação.

No momento da criação, já haviam outros Orixás habitando Orum, o mundo espiritual. Oxalá foi aconselhado por Orumilá a entregar uma oferenda ao Orixá Exu antes de empenhar sua tarefa de criação do mundo.

Oxalá olvidou o conselho e partiu sem fazer suas oferendas. Então, Exu usou de seus poderes, criando em Oxalá muita sede.

Chegando ao local onde o mundo seria criado, encontrou uma palmeira, com seu cajado, opaxorô, e fez um furo na palmeira e bebeu seu vinho. Bebeu, bebeu, bebeu e logo depois adormeceu ao lado da palmeira.

Exu lhe tomou o saco da criação e entregou ao Orixá Oduduá, que com a concessão de Olorum e as devidas oferendas, fez a tarefa que antes seria de Oxalá.

Ao acordar, Oxalá vê que o mundo já havia sido criado. Oxalá se dirige a Olorum para esclarecer o ocorrido. Olorum o perdoa e absorve este mistério de Olorum, logo passa a ser o Orixá do perdão. Então, Olorum lhe dá uma nova incumbência, a de criar os homens.

Oxalá toma o barro e com ele modela o homem e a mulher, porém não tem vida. Assim, chama Olorum para expor a questão. Olorum se aproxima e assopra o sopro da vida, animando os homens e mulheres modelados por Oxalá.

Assim, Oxalá criou o homem e a mulher, e passa a não receber nada que seja alcoólico, pelo contrário, Oxalá passa a representar a sobriedade, a calma e a Paz

Itan de Esu

Exú o grande senhor que demarca principalmente os territórios utilizados por nós em seus caminhos, ganhou poder sobre a encruzilhada. Exú não tinha riqueza, nem fazenda. Exú não tinha rio, não tinha profissão, nem artes, nem missão. Por isso, Exú vagava pelo mundo sem paradeiro. Então, um dia, Exú passou a frequentar a casa de Oxalá. Ia à casa de Oxalá todos os dias. Lá, Exú se distraía vendo o bom velhinho dando vida aos seres humanos.

Muitos e muitos também vinham visitar Oxalá, mas ali ficavam pouco: 4 dias, 8 dias. Traziam oferendas, elogiavam o velho Orixá, apreciavam sua obra, mas partiam sem nada aprender com Oxalá. Exú, no entanto, ficou na casa de Oxalá por 16 anos e, durante esse tempo, Exú não perguntava, apenas observava. Exú prestava muita atenção na modelagem e aprendeu como Oxalá fabricava cada parte do corpo dos homens e das mulheres, as mãos, os pés, a boca, os olhos, tudo. Ou seja, Exú aprendeu tudo.```

*COMO EXÚ SE TORNOU O AJUDANTE DE OXALÁ*

```Um dia, Oxalá tinha cada vez mais humanos para fazer e não queria perder tempo recolhendo os presentes que todos lhe ofereciam, então, ele disse a Exú para ir postar-se na encruzilhada por onde passavam os que vinham a sua casa, para ficar ali e não deixar passar quem não trouxesse uma oferenda. Oxalá nem tinha tempo para as visitas. Exú tinha aprendido tudo e agora podia ajudar Oxalá.

Exú coletava os ebós para Oxalá, recebia as oferendas e as entregava. Exú fazia muito bem o seu trabalho e, assim Oxalá então decidiu compensá-lo: assim, Oxalá decidiu que todos os que viessem a sua casa, teriam de também de pagar alguma coisa a Exú. E, assim, Exú mantinha-se sempre a postos, guardando a casa de Oxalá, armado de um ogó, um poderoso porrete, afastando os indesejáveis e punindo quem tentasse burlar sua vigilância.

Exú trabalhava demais e fez dali a sua casa, na encruzilhada. Ganhou uma rentável profissão, ganhou seu lugar, sua casa. Exú ficou rico e poderoso. Desde então, ninguém pôde mais passar por uma encruzilhada sem pagar alguma coisa a Exú...

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Itan de Osossi


Osóssi era irmão de Ogun. E Ogun tinha pelo irmão um afeto especial. 
Num certo dia em que voltava da batalha, 
Ogun encontrou o irmão temeroso e sem reação, cercado de 
inimigos que já tinham destruído quase toda a aldeia e que 
estavam prestes a atingir sua família e tomar suas terras. 
Ogun vinha cansado de outra guerra, mas ficou irado e sedento de vingança. 
Procurou dentro de si mais forças para continuar lutando e 
partiu na direção dos inimigos. 
Com sua espada de ferro pelejou até o amanhecer.

Quando por fim venceu os invasores, sentou-se com o irmão e o 
tranquilizou com sua proteção. Sempre que houvesse 
necessidade ele iria até seu encontro para auxiliá-lo. 
Ogun então ensinou Osóssi a caçar, a abrir caminhos pela floresta e 
matas cerradas. 
Osóssi aprendeu com o irmão a nobre arte da caça, 
sem a qual a vida é muito mais difícil. 
Ogun ensinou Osóssi a se defender por si próprio e
 também ensinou Osóssi a cuidar da sua gente.

Agora, Ogun podia voltar tranquilo para a guerra. 
Ogun fez de Osóssi o provedor. 
Ogun segue sendo o grande guerreiro dentre os Orisás e  
Osóssi tornou-se o mais exímio caçador do panteão dos Orisás.

domingo, 4 de agosto de 2019

Lendas Africanas - Briga entre Osalá e Exu


Oxalá e Exu discutiam sobre quem era o mais antigo deles.
Exu, decididamente, insiste ser o mais velho.
Oxalá, decididamente também, proclama com veemência que já estava no mundo quando Exu
foi criado.
O desentendimento entre eles era tal que foram convidados a lutarem entre si, diante dos
outros Imalés, reunidos numa assembléia.
Ifá foi consultado pelos adversários e foram, ambos, orientados a fazer oferendas. Oxalá fez
as oferendas prescritas.
Exu negligenciou a prescrição.
O dia da luta chegou.
Oxalá apoiado em seu poder,
Exu, contando com a magia mortal e a força dos seus talismãs.
Todo os Imalés estavam reunidos na praça de Ifé.
Oxalá deu uma palmada em Exu e boom!
Exu caiu sentado, machucado.
Os Imalés gritaram:
"Êpa!"
Exu sacudiu-se e levantou-se.
Oxalá bateu-lhe na cabeça e ele tomou-se anão.
Os Imalés gritaram juntos:
"Êpa!"
Exu sacudiu-se e recuperou seu tamanho.
Oxalá tomou a cabeça de Exu e sacudiu-a com violência.
A cabeça de Exu tomou-se enorme, maior que o seu corpo.
Os Imalés gritaram juntos:
"Êpa!"

Exu esfregou a cabeça com as mãos e esta recuperou seu tamanho natural.
Os Imalés disseram:
"Está bem!
Que Exu mostre agora seu poder sobre Oxalá."
Exu caminhava pra lá e pra cá.
Ele bateu na própria cabeça e dela extraiu uma pequena cabaça.
Ele abriu-a repentinamente e virou-a.na direção de Oxalá.
Uma nuvem de fumaça branca saiu da cabaça e descoloriu Oxalá. Os Imalés gritaram juntos:
"Êpa!"
Oxalá esfregou-se, tentando readquirir sua antiga cor.
Mas foi em vão.
Ele falou: "Está bem!"
Oxalá desfez o turbante enrolado sobre sua cabeça e, daí, tirou o seu poder (axé).
Tocou com ele sua boca e chamou Exu.
Exu respondeu com um sim.
Oxalá ordenou-lhe:
"Venha aqui!"
Exu aproximou-se.
Oxalá continuou:
"Traga sua cabacinha".
Exu a entregou nas mãos de Oxalá.
Este a tomou firmemente e a jogou no seu saco.
Os Imalés exclamaram:
"Êpa!"
E disseram:
"Oxalá é, sem dúvida, o senhor do poder (axé).
O senhor da iniciativa e do poder (alabalaxé).
Tu és maior que Exu.
Tu és maior que todos os orixás.
O poder de Oxalá ultrapassa o dos demais.
Exu não tem mais poder a exercer.
Oxalá tomou a cabaça que ele utilizava para o seu poder.
"É esta cabaça que Oxalá utiliza
para transformar os seres humanos em albinos,
fazendo, assim, os brancos, até hoje.



Lendas retiradas do livro: LENDAS AFRICANAS DOS ORIXAS de PIERRE FATUMBI VERGER

Lendas Africanas - Osalufan

Êpa Baba!
Oxalufã era o rei de Ilu-ayê, a terra dos ancestrais, na longínqua África.
Ele estava muito velho, curvado pela idade e andava com dificuldade, apoiado num grande
cajado, chamado opaxorô.
Um dia, Oxalufã decidiu viajar em visita a.seu velho amigo Xangô, rei de Oyó.
Antes de partir, Oxalufã consultou um babalaô, o adivinho, perguntando-lhe se tudo ia correr
bem e se a viagem seria feliz.
O babalaô respondeu-lhe:
"Não faça esta viagem!
Ela será cheia de incidentes desagradáveis e acabará mal."
Mas, Oxalufã tinha um temperamento obstinado, quando fazia um projeto, nunca renunciava.
Disse, então, ao babalaô:
"Decidi fazer esta viagem e eu a farei, aconteça o que acontecer!"
Oxalufa perguntou ainda ao babalaô, se oferendas e sacrifícios melhorariam as coisas.
Este respondeu-lhe:
"Qualquer que sejam suas oferendas, a viagem será desastrosa."
E fez ainda algumas recomendações:
"Se você não quiser perder a vida durante a viagem, deverá aceitar fazer tudo que lhe
pedirem.
Você não deverá queixar-se das tristes conseqüências que advirão.
Será necessário que você leve três panos brancos.
Será necessário que você leve, também, sabão e limo da costa."
Oxalufã partiu, então, lentamente, apoiado no seu opaxorô.
Ao cabo de algum tempo, ele encontra Exu Elepô, Exu "dono do azeite de dendê". Exu estava
sentado à beira da estrada, com um grande pote cheio de dendê.
"Ah! Bom dia Oxalufã, como vai a família?"
"Oh! Bom dia Exu Elepô, como vai também a sua?"
"Ah! Oxalufã, ajude-me a colocar este pote no ombro."
"Sim, Exu, sim, sim, com prazer e logo."
Mas, de repente, Exu Elepô virou o pote sobre Oxalufã.
Oxalufã, seguindo os conselhos do babalaô, ficou calmo e nada reclamou.
Foi limpar-se no rio mais próximo.

Passou o limo da costa sobre o corpo e vestiu-se com um novo pano; aquele que usava ficou
perto do rio, como oferenda.
Oxalufã retomou a estrada, andando com lentidão, apoiado no seu opaxorô. Duas vezes mais
ele encontrou-se com Exu.
Uma vez, com Exu Onidú, Exu "dono do carvão";
Outra vez, com ExuAladi, Exu "dono do óleo do caroço de dendê".
Duas vezes mais, Oxalufã foi vítima das armadilhas de Exu, ambas semelhantes à primeira.
Duas vezes mais, Oxalufã sujeitou-se às conseqüências.
Exu divertiu-se às custas dele,
sem que, contudo, conseguisse tirar-lhe a calma.
Oxalufã trocou, assim, seus últimos panos,
deixando na margem do rio os que usava, como oferendas.
E continuou corajosamente seu caminho, apoiado em seu opaxorô, até que passou a fronteira
do reino de seu amigo Xangô.
Kawo Kabiyesi, Sango, Alafin Oyó, Alayeluwa!
"Saudemos Xangô, Senhor do Palácio de Oyó, Senhor dó Mundo!"
Logo, Oxalufã avistou um cavalo perdido que pertencia a Xangô.
Ele conhecia o animal, pois havia sido ele que, há tempo, lho oferecera. Oxalufa tentou
amansar o cavalo, mostrando-lhe uma espiga de milho, para amarrá-lo e devolvê-lo a Xangô.
Neste instante, chegaram correndo os empregados do palácio.
Eles estavam perseguindo o animal e gritaram:
"Olhem o ladrão de cavalo!
Miserável, imprestável, amigo do bem alheio!
Como os tempos mudaram; roubar com esta idade!!
Não há mais anciãos respeitáveis! Quem diria? Quem acreditaria?"
Caíram todos sobre Oxalufã, cobrindo-o de pancadas.
Eles o agarraram e arrastaram até a prisão.
Oxalufã, lembrando-se das recomendações do babalaô, permaneceu quieto e nada disse.
Ele não podia vingar-se.
Usou então dos seus poderes, do fundo da prisão.
Não choveu mais, a colheita estava comprometida, o gado dizimado; as mulheres estéreis, as
pessoas eram vitimadas por doenças terríveis. Durante sete anos o reino de Xangô foi
devastado.
Xangô, por sua vez, consultou um babalaô, para saber a razão de toda aquela desgraça.
"Kabiyesi Xangô, respondeu-lhe o babalaô, tudo isto é conseqüência de um ato lastimável.
Um velho sofre injustamente, preso há sete anos.
Ele nunca se queixou, mas não pense no entanto ...
Eis a fonte de todas as desgraças!"
Xangô fez vir diante dele o tal ancião.
"Ah! Mas vejam só!"- gritou Xangô.
"É você, Oxalufã! Êpa Baba! Exê ê!
Absurdo! É inacreditável, vergonhoso, imperdoável!!!
Ah! Você Oxalufa, na prisão! Êpa Baba!!
Não posso acreditar e, ainda por cima, preso por meus próprios empregados! Hei! Todo
vocês!
Meus generais!
Meus cavaleiros, meus eunucos, meus músicos!
Meus mensageiros e chefes de cavalaria!
Meus caçadores!
Minhas mulheres, as yabás!
Hei! Povo de Oyó!
Todos e todas, vesti-vos de branco em respeito ao rei que veste branco! Todos e todas,
guardai o silêncio em sinal de arrependimento!
Todos e todas, vão buscar água no rio!
É preciso lavar Oxalufã!
Êpa Baba! Êpa, Êpa!
É preciso que ele no perdoe a ofensa que lhe foi feita!!"
Este episódio da vida de Oxalufã é comemorado, a cada ano, em todos os terreiros de
candomblé da Bahia, no dia das "Águas de Oxalá" quando todo mundo veste-se de branco e
vai buscar água em silêncio, para lavar os axés, objetos sagrados de Oxalá.
Também, com a mesma intenção, todos os anos, numa quinta-feira, uma multidão lava o chão
da basílica dedicada ao Senhor do Bonfim que, para os descendentes de africanos dos outro
tempos e seus descendentes de hoje, é Oxalufã.
Epa, Epa Baba!!!



Lendas retiradas do livro: LENDAS AFRICANAS DOS ORIXAS de PIERRE FATUMBI VERGER

Lendas Africanas - Osaguian

Exê êêê!
Oxaguiã era o filho de Oxalufã.
Ele nasceu em Ifé, bem antes de seu pai tomar-se o rei de Ifan.
Oxaguiã, valente guerreiro, desejou, por sua vez, conquistar um reino.
Partiu, acompanhado de seu amigo Awoledjê.
Oxaguiã não tinha ainda este nome.
Chegou num lugar chamado Ejigbô e aí tomou-se Elejigbô - "Rei de Ejigbô". Oxaguiã tinha
uma grande paixão por inhame pilado, comida que os iorubas chamam de iyan.
Elejigbô comia deste iyan a todo momento; comia de manhã, ao meio-dia e depois da sesta;
comia no jantar e, até mesmo, durante a noite, se sentisse vazio seu estômago!
Ele recusava qualquer outra comida, era sempre iyan que devia ser-lhe servido. Chegou ao
ponto de inventar o pilão, para que fosse preparado seu prato predileto! Impressionados pela
sua mania, os outros orixás deram-lhe um apelido:
Oxaguiã, que significa "Orixá-comedor-de-inhame-pilado", e assim passou a ser chamado.
Awoledjê, seu companheiro, era babalaô,
um grande adivinho, que o aconselhava no que devia ou não fazer.
Certa ocasião, Awoledjê aconselhou Oxaguiã a oferecer:
dois ratos de tamanho médio;
dois peixes, que nadassem majestosamente;
duas galinhas, cujos fígados fosses bem grandes;
duas cabras, cujo leite fosse abundante;
duas cestas de caramujos e muitos panos brancos.
Disse-lhe, ainda, que se ele seguisse seus conselhos,
Ejigbô, que era então um pequeno vilarejo dentro da floresta, tomar-se-ia, muito em breve,
uma cidade grande e poderosa e povoada de muitos habitantes.
Depois disto, Awoledjê viajou para outros lugares.
Ejigbô tomou-se uma grande cidade, como previra Awoledjê.
Ela era cercada de muralhas com fossos profundos, as portas fortificadas e guardas armados
vigiavam suas entradas e saídas.
Havia um grande mercado, em frente ao palácio, que atraía, de muito longe, compradores e
vendedores de mercadorias e escravos.
Elejigbô vivia com pompa entre suas mulheres e seus servidores.
Músicos cantavam seus louvores.
Quando falava-se dele, não se usava jamais o seu nome, pois seria falta de respeito.
Era a expressão Kabiyesi, isto é, Sua Majestade, que deveria ser empregada.

Ao cabo de alguns anos, Awoledjê voltou.
Ele desconhecia ainda o novo esplendor de seu amigo.
Chegando diante dos guardas, na entrada do palácio,
Awoledjê pediu, com familiaridade, notícias do "Comedor-de-inhame-pilado". Chocados pela
insolência do forasteiro, os guardas gritaram:
"Que ultraje falar desta maneira de Kabiyesi!
Que impertinência! Que falta de respeito!"
E caíram sobre ele dando-lhe pauladas e cruelmente jogaram-no na cadeia. Awoledjê,
mortificado pelos maus tratos, decidiu vingar-se, utilizando sua magia. Durante sete anos a
chuva não caiu sobre Ejigbô,
as mulheres não tiveram mais filhos e os cavalos do rei não tinham pasto. Elejigbô,
desesperado, consultou um babalaô para remediar esta triste situação. Este respondeu-lhe:
"Kabiyesi, toda esta infelicidade é resultado da injusta prisão de um de meus confrades!
É preciso soltá-lo, Kabiyesi!
É preciso obter o seu perdão!"
Awoledjê foi solto e, cheio de ressentimento, foi-se esconder no fundo da mata.
Elejigbô, apesar de rei tão importante, precisou ir suplicar-lhe que esquecesse os maus tratos
sofridos e o perdoasse.
"Muito bem! - respondeu-lhe.
Eu permito que a chuva volte a cair, Oxaguiã, mas tem uma condição:
Cada ano, por ocasião da sua festa,
será necessário que você envie muita gente à floresta,
cortar trezentos feixes de varetas.
Os habitantes de Ejigbô, divididos em dois campos,
deverão golpear-se, uns aos outros,
até que estas varetas estejam gastas ou se quebrem".
Desde então, todo os anos, no fim da seca, os habitantes de dois bairros de Ejigbô, aqueles de
Ixalê Oxolô e aqueles de Okê Mapô, batem-se todo um dia, em sinal de contrição, e na
esperança de verem, novamente, a chuva cair.
A lembrança deste costume conservou-se através dos tempos e permanece viva também na
Bahia.
Por ocasião das cerimônias em louvor de Oxaguiã.
as pessoas batem-se umas nas outras, com leves golpes de vareta ...
e recebem, em seguida, uma porção de inhame pilado,
enquanto Oxaguiã vem dançar com energia, trazendo uma mão de pilão,
símbolo das preferências gastronômicas do orixá "Comedor-de-inhame-pilado".
Exê ê! Baba Exê ê!



Lendas retiradas do livro: LENDAS AFRICANAS DOS ORIXAS de PIERRE FATUMBI VERGER

Lendas Africanas - Disputa entre Nanã e Ogun


Nanã Buruku é uma velhíssima divindade das águas, vinda de muito longe e há muito tempo.
Ogum é um poderoso chefe guerreiro que anda sempre à frente dos outros Imalés.
Um dia, eles vão a uma reunião.
É a reunião dos duzentos Imalés da direita e dos quatrocentos Imalés da esquerda.
Eles discutem sobre os seus poderes.
Eles falam muito sobre Obatalá, aquele que criou os seres humanos.
Eles falam sobre Orunmilá, o senhor do destino dos homens.
Eles falam sobre Exu:
"Ah! É um importante mensageiro!"
Eles falam muita coisa a respeito de Ogum.
Ele dizem: "É graças a seus instrumentos que nós podemos viver. Declaramos que é o mais
importante entre nós!"
Nanã Buruku contesta, então:
"Não digam isto.
Que importância tem, então, os trabalhos que ele realiza?"
Os demais orixás respondem:
"É graças a seus instrumentos que trabalhamos pelo nosso alimento. É graças a seus
instrumentos que cultivamos os campos.
São eles que utilizamos para esquartejar os animais".

Nanã conclui que não renderá homenagem a Ogum.
"Por que não haverá um outro lmalé mais importante?"
Ogum diz:
"Ah! Ah! Considerando que todos os outros lmalés me rendem homenagem, me parece justo,
Nanã, que você também o faça".
N anã responde que não reconhece sua superioridade.
Ambos discutem por muito tempo.
Ogum perguntando:
"Você pretende que eu seja dispensável?"
Nanã garantindo que isto ela podia afirmar dez vezes.
Ogum diz então:
"Muito bem!
Você vai saber que sou indispensável para todas as coisas."
Nanã, por sua vez, declara que, a partir daquele dia,
ela não utilizará, absolutamente nada, fabricado por Ogum e,
ainda assim, poderá tudo realizar.
Ogum questiona:
"Como você o fará?
Você não sabe que sou o proprietário de todos os metais?
Estanho, chumbo, ferro, cobre. Eu os possuo todos."
Os filhos de Nanã eram caçadores.
Para matar um animal,
eles passaram a se servir de um pedaço de pau, afiado em forma de faca, para esquartejá-lo.
Os animais oferecidos a Nanã são mortos e decepados com instrumentos de madeira.
Não se pode utilizar faca de metal para cortar sua carne, por causa da disputa que, desde
aquele dia, opôs Ogum a Nanã.



Lendas retiradas do livro: LENDAS AFRICANAS DOS ORIXAS de PIERRE FATUMBI VERGER

Lendas Africanas - Omulu

Ajibero!
Xapanã nasceu em Empê, no território Tapá, também chamado Nupê. Era um guerreiro terrível
que, seguido de suas tropas, percorria o céu e os quatro cantos do mundo.
Ele massacrava sem piedade aqueles que se opunham à sua passagem. Seus inimigos saíam
dos combates mutilados ou morriam de peste. Assim, chegou Xapanã em território Mahi, no
Daomé.
A terra dos mahis abrangia as cidades de Savalú e Dassa Zumê.
Quando souberam da chegada iminente de Xapanã, os habitantes desta região, apavorados,
consultaram um adivinho.
E assim ele falou:
"Ah! O grande Guerreiro chegou de Empê!
Aquele que se tomará o senhor do país!
Aquele que tomará este terra rica e próspera, chegou!
Se o povo não aceitá-lo, ele o destruirá!
É necessário que supliquem a Xapanã que vos poupe.
Façam-lhe muitas oferendas; todas as que ele goste: inhame pilado, feijão, farinha de milho,
azeite de dendê, picadinho de carne de bode e muita, muita pipoca!
Será necessário, também, que todos se curvem diante dele, que o respeitem e o sirvam.
Desde que o povo o reconheça como pai,
Xapanã não o combaterá, mas protegerá a todos!"
Quando Xapanã chegou, conduzindo seus ferozes guerreiros, os habitantes de Savalú e Dassa
Zumê reverenciaram-no, encostando suas testas no chão, e saudaram-no:
Totô hum! Totô hum! Atotô! Atotô!
"Respeito e submissão!"

Xapanã aceitou os presentes e as homenagens, dizendo: "Está bem! Eu os pouparei!
Durante minhas viagens, desde Empê, minha terra natal, sempre encontrei desconfiança e
hostilidade.
Construam para mim um palácio.
É aqui que viverei a partir de agora!"
Xapanã instalou-se assim entre os mahis.
O país prosperou e enriqueceu, " e o Grande Guerreiro não voltou mais a Empê, no território
Tapá, também chamado Nupê.
Xapanã é considerado o deus da varíola e das doenças contagiosas.
Ele tem, também, o poder de curar.
As doenças contagiosas são, na realidade,
punições aplicadas àqueles que o ofenderam ou conduziram-se mal.
Seu verdadeiro nome, é perigoso demais pronunciar.
Por prudência, é preferível chamá-lo Obaluaê, o "Rei, Senhor da Terra" ou Omulú, o "Filho
do Senhor".
Quando Xapanã instalou-se entre o mahis, recebeu, em uma nova terra, o nome de Sapatá.
Aí, também, era preferível chamá-loAinon, o "Senhor da Terra", ou, então, Jeholú, o "Senhor
das Pérolas".
O fato de ser chamado Jeholú e Ainon
causou mal-entendidos entre Sapatá e os reis do Daomé,
pois eles também usavam estes títulos.
Enciumados, os Jeholú de Abomey expulsaram, várias vezes,
Jeholú Ainon do Daomé e obrigaram-no a voltar, transitoriamente, à terra dos mahis.
Jeholú Ainon vingou-se:
vários reis daomeanos morreram de varíola!
Atotô!



Lendas retiradas do livro: LENDAS AFRICANAS DOS ORIXAS de PIERRE FATUMBI VERGER

Lendas Africanas - Osumarê

Oxumaré era, antigamente, um adivinho (babalaô).
O adivinho do rei Oni.
Sua única ocupação era ir ao palácio real no "dia do segredo"; dia que dá início à semana de
quatro dias dos iorubas.
O rei Oni não era um rei generoso.
Ele dava apenas, a cada semana, uma quantia irrisória a Oxumaré que,
por esta razão, vivia na miséria com a sua família.
O pai de Oxumaré tinha um belo apelido.
Chamavam-no "o proprietário do xale de cores brilhantes". Mas, tal como seu filho, ele não
tinha poder.
As pessoas da cidade não o respeitavam.
Oxumaré, magoado com esta triste situação, consultou Ifá. "Como tomar-se rico, respeitado,
conhecido e admirado por todos?"
Ifá o aconselhou a fazer oferendas.
Disse-lhe que oferecesse
uma faca de bronze, quatro pombos e
quatro sacos de búzios da costa.
No momento que Oxumaré fazia estas oferendas, o rei mandou chamá-lo.
Oxumaré respondeu:
"Pois não, chegarei tão logo tenha terminado a cerimônia".
O rei, irritado pela espera, humilhou Oxumaré, recriminou-o e negligenciou, até, a remessa de
seus pagamentos habituais.
Entretanto, voltando à sua casa,
Oxumaré recebeu um recado:
Olokum, a rainha de um país vizinho, desejava consultá-lo a respeito de seu filho, que estava
doente.
Ele não podia manter-se de pé, caía, rolava no chão e queimava-se nas cinzas do fogareiro

Oxumaré dirigiu-se à corte da rainha Olokum e consultou Ifá para ela.
Todas as doenças da criança foram curadas.
Olokum, encantada com este resultado, recompensou Oxumaré.
Ela ofereceu-lhe uma roupa azul, feita de um rico tecido.
Ela deu-lhe muitas riquezas, servidores e um cavalo, com o qual Oxumaré retomou à sua casa,
em grande estilo.
Um escravo fazia rodopiar um guarda-sol sobre a sua cabeça e músicos cantavam seus
louvores.
Oxumaré foi saudar o rei.
O rei Oni ficou surpreso e disse-lhe:
"Oh! De onde vieste?
De onde saíram todas estas riquezas?"
Oxumaré respondeu-lhe que a rainha Olokum o havia consultado.
"Ah! Foi então Olokum que fez tudo isto por você!"
Estimulado pela rivalidade,
o rei Oni ofereceu a Oxumaré uma roupa do mais belo vermelho, acompanhada de muitos
outros presentes.
Assim, Oxumaré tomou-se rico e respeitado.
Entretanto, Oxumaré não era amigo de Chuva.
Quando Chuva reunia a nuvens,
Oxumaré agitava sua faca de bronze e a apontava em direção ao céu, como se riscasse de um
lado a outro.
O arco-íris aparecia e Chuva fugia. todos gritavam: "Oxumaré apareceu!"
Oxumaré tomou-se muito célebre.
Nesta época, Olodumaré, o deus supremo, aquele que estende a esteira real em casa e caminha
na chuva,
começou a sofrer da vista e nada mais enxergava. Ele mandou chamar Oxumaré e o mal dos
seus olhos foram curados.
Depois disto, Olodumaré não deixou mais que Oxumaré retomasse à Terra.
Desde este dia, é no céu que ele mora e só tem permissão de visitar a Terra a cada três anos.
É durante estes ano que a pessoas tomam-se ricas e prósperas.



Lendas retiradas do livro: LENDAS AFRICANAS DOS ORIXAS de PIERRE FATUMBI VERGER

Lendas Africanas - Yemanjá

Odô Iyâ Yemanjá Ataramagbá,
ajejê lodõ, ajejê nilê!

Iemanjá era a filha de Olokum, a deusa do mar.
Em Ifé, ela tornou-se a esposa de Olofin-Odudua, com o qual teve dez filhos.
Estas crianças receberam nomes simbólicos e todos tomaram-se orixás. Um deles foi chamado
Oxumaré, o Arco-Íris, "aquele-que-se-desloca-com-a-chuva-e-revela-seus-segredos".
De tanto amamentar seus filhos, os seios de Iemanjá tornaram-se imensos.
Cansada da sua estadia em Ifé,
Iemanjá fugiu na direção do "entardecer-da-terra", como os iorubas designam o Oeste,
chegando a Abeokutá.
Ao norte de Abeokutá, vivia Okere, rei de Xaki.
Iemanjá continuava muito bonita.
Okere desejou-a e propôs-lhe casamento.
Iemanjá aceitou mas, impondo uma condição, disse-lhe:
"Jamais você ridicularizará da imensidão dos meu seios."
Okere, gentil e polido, tratava Iemanjá com consideração e respeito.
Mas, um dia, ele bebeu vinho de palma em excesso.
Voltou para casa bêbado e titubeante.
Ele não sabia mais o que fazia.
Ele não sabia mais o que dizia.
Tropeçando em Iemanjá, esta chamou-o de bêbado e imprestável.
Okere, vexado, gritou:
"Você, com seus seios compridos e balançantes!
Você, com seus seios grandes e trêmulos!"
Iemanjá, ofendida, fugiu em disparada.
Certa vez, antes do seu primeiro casamento,
Iemanjá recebera de sua mãe, Olokum,
uma garrafa contendo uma poção mágica pois, dissera-lhe esta:
"Nunca se sabe o que pode acontecer amanhã.
Em caso de necessidade, quebre a garrafa, jogando-a no chão."
Em sua fuga, Iemanjá tropeçou e caiu.
A garrafa quebrou-se e dela nasceu um rio.

As águas tumultuadas deste rio levaram Iemanjá em direção ao oceano, residência de sua mãe
Olokum.
Okere, contrariado, queria impedir a fuga de sua mulher.
Querendo barrar-lhe o caminho, ele transformou-se numa colina, chamada, ainda hoje, Okere,
e colocou-se no seu caminho.
Iemanjá quis passar pela direita, Okere deslocou-se para a direita.
Iemanjá quis passar pela esquerda, Okere deslocou-se para a esquerda.
Iemanjá, vendo assim bloqueado seu caminho para a casa materna, chamou Xangô, o mais
poderoso dos seus filhos.
Kawo Kabiyesi Sango, Kawo Kabiyesi Obá Kossôl "
Saudemos o Rei Xangô, saudemos o Rei de Kossô!"
Xangô veio com dignidade e seguro do seu poder. ele pediu uma oferenda de um carneiro e
quatro galos, um prato de "amalá", preparado com farinha de inhame, e um prato de
"gbeguiri", feito com feijão e cebola.
E declarou que, no dia seguinte, Iemanjá encontraria por onde passar.
Nesse dia, Xangô desfez todos os nós que prendiam as amarras da chuva. Começaram a
aparecer nuvens dos lados da manhã e da tarde do dia.
Começaram a aparecer nuvens da direita e da esquerda do dia.
Quando todas elas estavam reunidas, chegou Xangô com seu raio.
Ouviu-se então: Kakara rá rá rá ...
Ele havia lançado seu raio sobre a colina Okere.
Ela abriu-se em duas e, suichchchch ...
Iemanjá foi-se para o mar de sua mãe Olokum.
Aí ficou e recusa-se, desde então, a voltar em terra.
Seus filhos chamam-na e saúdam-na:
”Odo Iyá, a Mãe do rio, ela não volta mais.
Iemanjá, a rainha das águas, que usa roupas cobertas de pérolas."
Ela tem filhos no mundo inteiro.
Iemanjá está em todo lugar onde o mar vem bater-se com suas ondas espumantes. Seus filhos
fazem oferendas para acalmá-Ia e agradá-la.
Odô Iyá, Yemanjá, Ataramagbá Ajejê lodôl Ajejê nilêl
"Mãe das águas, Iemanjá, que estendeu-se ao longe na amplidão.
Paz nas águas! Paz na casa!"



Lendas retiradas do livro: LENDAS AFRICANAS DOS ORIXAS de PIERRE FATUMBI VERGER

Lendas Africanas - Obá

OBA, a terceira mulher de Xangô

Obá era uma mulher cheia de vigor e coragem.
Faltava-lhe, talvez, um pouco de charme e refinamento.
Mas ela não temia ninguém no mundo.
Seu maior prazer era lutar.
Seu vigor era tal que ela escolheu a luta e o pugilato como profissão.
Obá venceu todas as disputas que foram organizadas entre ela e diversos orixás. Ela derrubou
Obatalá, tirou Oxóssi de combate e deixou no chão Orunmilá.
Oxumaré não resistiu à sua força.
Ela desafiou Obaluaê e botou Exu pra correr.
Chegou a vez de Ogum!
Ogum teve o cuidado de consultar Ifá, antes da luta.
Os adivinhos lhe disseram para fazer oferendas, compostas de duzentas espigas de milho e
muitos quiabos.
Tudo pisado num pilão para se obter uma massa viscosa e escorregadia.
Esta substância deveria ser depositada num canto do terreno onde eles lutariam. Ogum seguiu
fielmente estas instruções.
Na hora da luta, Obá chegou dizendo:
"O dia do encontro é chegado." Ogum confirmou:
"Nós lutaremos, então, um contra o outro."
A luta começou.
No início, Obá parecia dominar a situação.
Ogum recuou em direção ao lugar onde ele derramara a oferenda.
Obá pisou na pasta viscosa e escorregou.
Ogum aproveitou para derrubá-Ia.
Rapidamente, libertou-se do pano que vestia e a possuiu ali mesmo, tomando-se, desta
maneira, seu primeiro marido.
Mais tarde, Obá tomou-se a terceira mulher de Xangô, pois ela era forte e corajosa. A
primeira mulher de Xangô foi Oiá-Iansã, que era bela e fascinante.
A segunda foi Oxum, que era coquete e vaidosa.

Uma rivalidade logo se estabeleceu entre Obá e Oxum.
Ambas disputavam a preferência do amor de Xangô.
Obá sempre procurava surpreender o segredo das receitas utilizadas por Oxum quando esta
preparava as refeições de Xangô.
Oxum irritada, decidiu preparar-lhe uma armadilha.
Convidou Obá a vir, um dia de manhã, assistir à preparação de um prato que, segundo ela,
agradava infinitamente a Xangô.
Obá chegou na hora combinada e encontrou Oxum com um lenço amarrado à cabeça,
escondendo as orelhas.
Ela preparava uma sopa para Xangô
onde dois cogumelos flutuavam na superfície do caldo.
Oxum convenceu Obá que se tratava de suas orelhas,
que ela cozinhava, desta forma,
para preparar o prato favorito de Xangô.
Este logo chegou, vaidoso e altivo.
Engoliu, ruidosamente e com deleite, a sopa de cogumelos e galante e apressado, retirou-se
com Oxum para o quarto.
Na semana seguinte, foi a vez de Obá cuidar de Xangô.
Ela decidiu pôr em prática a receita maravilhosa.
Xangô não sentiu nenhum prazer ao ver que Obá se cortara uma das orelhas.
Ele achou repugnante o prato que ela lhe preparara.
Neste momento, Oxum chegou e retirou o lenço,
mostrando à sua rival que suas orelhas não haviam sido cortadas, nem comidas. Furiosa, Obá
precipitou-se sobre Oxum com impetuosidade.
Uma verdadeira luta se seguiu.
Enraivecido, Xangô trovejou sua fúria.
Oxum e Obá, apavoradas, fugiram e transformaram-se em rios.
Até hoje, as águas destes rios são tumultuadas e agitadas no lugar de sua confluência, em
lembrança da briga que opôs Oxum e Obá pelo amor de Xangô.



Lendas retiradas do livro: LENDAS AFRICANAS DOS ORIXAS de PIERRE FATUMBI VERGER

Lendas Africanas - Oxun

Orê Yeyê ô!

Oxum era muito bonita, dengosa e vaidosa. Como o são, geralmente, as belas mulheres.
Ela gostava de panos vistosos, marrafas de tartaruga e tinha, sobretudo, uma grande paixão
pelas jóias de cobre. Antigamente, este metal era muito precioso na terra dos iorubas. Só uma
mulher elegante possuía jóias de cobre pesadas.
Oxum era cliente dos comerciantes de cobre.
Omiro wanran wanran wanran omi ro!
"A água corre fazendo o ruído dos braceletes de Oxum!"
Oxum lavava suas jóias antes mesmo de lavar suas crianças. Mas tem, entretanto, a reputação
de ser uma boa mãe e atende as súplicas das mulheres que desejam ter filhos.
Oxum foi a segunda mulher de Xangô.
A primeira chamava-se Oiá-Iansã e a terceira Obá.
Oxum tem o humor caprichoso e mutável.
Alguns dias, suas águas correm aprazíveis e calmas, elas deslizam com graça, frescas e
límpidas, entre margens cobertas de brilhante vegetação.
Numerosos vãos permitem atravessar de um lado a outro.

Outras vezes, suas águas tumultuadas passam estrondando, cheias de correntezas e torvelinhos,
transbordando e inundando campos e florestas.
Ninguém pode atravessar de uma margem para a outra, pois nenhuma ponte faz a ligação.
Oxum não toleraria uma tal ousadia!
Quando ela está em fúria, ela leva para longe e destrói as canoas que tentam atravessar o rio.
Olowu, o rei de Owu, ia para a guerra seguido de seu exército. Por infelicidade, tinha que
atravessar o rio num dia em que este estava enfurecido.
Olowu fez a Oxum uma promessa solene, entretanto, mal formulada. Ele declarou:
"Se você baixar o nível de suas águas,
para que eu possa atravessar e seguir para a guerra, e se
eu voltar vencedor,
prometo a você nkan rere", isto é, boas coisas.
Oxum compreendeu que ele falava de sua mulher, Nkan, filha do rei de Ibadan. Ela baixou o
nível das águas e Olowu continuou sua expedição.
Quando ele voltou, algum tempo depois,
vitorioso e com um espólio considerável, novamente encontrou Oxum com o humor
perturbado.
O rio estava turbulento e com suas águas agitadas.
Olowu mandou jogar sobre as vagas toda sorte de boas coisas, as
nkan rere prometidas:
tecidos, búzios, bois, galinhas e escravos;
mel de abelhas e pratos de mulukun, iguaria onde misturam-se suavemente cebola, feijão
fradinho, sal e camarões.
Mas Oxum devolveu todas estas coisas boas sobre as margens.
Era Nkan, a mulher de Olowu, que ela exigia.
Olowu foi obrigado a submeter-se e jogar a sua mulher nas águas.
Nkan estava grávida e a criança nasceu no fundo do rio.
Oxum, escrupulosamente, devolveu o recém-nascido dizendo:
"É Nkan que me foi solenemente prometida e não a criança. Tome-a!"
As águas baixaram e Olowu voltou tristemente para sua terra.
O rei de Ibadan, sabendo do fim trágico de sua filha, declarou indignado: "Não foi para que
ela servisse de oferenda a um rio que eu a dei em casamento a Olowu!"
Ele guerreou com o genro e o expulsou do país.
O rio Oxum passa em um lugar onde suas águas são sempre abundantes. Por esta razão é que
Larô, o primeiro rei deste lugar, aí instalou-se e fez um pacto de aliança com Oxum.
Na época em que chegou, uma das suas filhas fora banhar-se.
O rio a engoliu sob as águas.
Ela só saiu no dia seguinte, soberbamente vestida, e declarou que Oxum a havia bem acolhido
no fundo do rio.
Larô, para mostrar sua gratidão, veio trazer-lhe oferendas.
Numerosos peixes, mensageiros da divindade, vieram comer, em sinal de aceitação, os
alimentos jogados nas águas.
Um grande peixe chegou nadando nas proximidades do lugar onde estava Larô. O peixe cuspiu
água, que Larô recolheu numa cabaça e bebeu, fazendo, assim, um pacto com o rio.
Em seguida, ele estendeu suas mãos sobre a água e o grande peixe saltou sobre ela.
Isto é dito em ioruba: Atewo gba ejá.
O que deu origem a Ataojá, título dos reis do lugar.
Ataojá declarou, então:
Oxum bgô!
"Oxum está em estado de maturidade, suas águas são abundantes."
Dando origem ao nome da cidade de Oxogbô.
Todos os anos faz-se, aí, grandes festas em comemoração a todos estes acontecimentos.



Lendas retiradas do livro: LENDAS AFRICANAS DOS ORIXAS de PIERRE FATUMBI VERGER

Lendas Africanas - Oya - Iansã

Eparrey!

Ogum foi um dia caçar na floresta.
Ele ficou na espreita e viu um búfalo vindo em sua direção.
Ogum avaliou logo a distância que os separava e preparou-se para matar o animal com a sua
espada.
Mas viu o búfalo parar e, de repente, baixar a cabeça e despir-se de sua pele.
Desta pele saiu uma linda mulher.
Era Iansã, vestida com elegância, coberta de belos panos, um turbante luxuoso amarrado à
cabeça e ornada de colares e braceletes.
Iansã enrolou sua pele e seus chifres,
fez uma trouxa e escondeu num formigueiro.
Partiu, em seguida, num passo leve, em direção ao mercado da cidade, sem desconfiar que
Ogum tinha visto tudo.
Assim que Iansã partiu, Ogum apoderou-se da trouxa, foi para casa, guardou-a no celeiro de
milho e seguiu, também, para o mercado.
Lá, ele encontrou a bela mulher e cortejou-a.
Iansã era bela, muito bela, era a mais bela mulher do mundo.
Sua beleza era tal que se um homem a visse, logo a desejaria.
Ogum foi subjugado e pediu-a em casamento.
Iansã apenas sorriu e recusou sem apelo.
Ogum insistiu e disse-lhe que a esperaria.
Ele não duvidava de que ela aceitasse sua proposta.
Iansã voltou à floresta e não encontrou seu chifre nem sua pele.
"Ah! Que contrariedade! Que teria se passado? Que fazer?"
Iansã voltou ao mercado, já vazio, e viu Ogum que a esperava.
Ela perguntou-lhe o que ele havia feito daquilo que ela deixara no formigueiro. Ogum fingiu
inocência e declarou que nada tinha a ver, nem com o formigueiro nem com o que estava nele.
Iansã não se deixou enganar e disse-lhe:
"Eu sei que você escondeu minha pele e meu chifre.
Eu sei que você se negará a me revelar o esconderijo.
Ogum, vou me casar com você e viver em sua casa.
Mas, existem certas regras de conduta para comigo.
Estas regras devem ser-sespeitadas, também, pelas pessoas da sua casa. Ninguém poderá me
dizer: Você é um animal!
Ninguém poderá utilizar cascas de dendê para fazer fogo.
Ninguém poderá rolar um pilão pelo chão da casa".

Ogum respondeu que havia compreendido e levou Iansã.
Chegando em casa, Ogum reuniu suas outras mulheres e explicou-lhes como deveriam
comportar-se.
Ficara claro para todos que ninguém deveria discutir com Iansã, nem insultá-Ia.
A vida organizou-se.
Ogum saía para caçar ou cultivar o campo.
Iansã, em vão, procurava sua pele e seus chifres.
Ela deu à luz uma criança, depois uma segunda e uma terceira ... Ela deu à luz nove crianças.
Mas as mulheres viviam enciumadas da beleza de Iansã.
Cada vez mais enciumadas e hostis,
elas decidiram desvendar o mistério da origem de Iansã.
Uma delas conseguiu embriagar Ogum com vinho de palma.
Ogum não pôde mais controlar suas palavras e revelou o segredo. Contou que Iansã era, na
realidade, um animal; que sua pele e seus chifres estavam escondidos no celeiro de milho.
Ogum recomendou-lhes ainda:
"Sobretudo não procurem vê-los, pois isto a amedrontará.
Não lhes digam jamais que é um animal!"
Depois disso, logo que Ogum saía para o campo, as mulheres insultavam Iansã:
"Você é um animal! Você é um animal!!"
Elas cantavam enquanto faziam os trabalhos da casa:
"Coma e beba, pode exibir-se, mas sua pele está no celeiro de milho!"
Um dia, todas as mulheres saíram para o mercado.
Iansã aproveitou-se e correu para o celeiro.
Abriu a porta e, bem no fundo, sob grandes espigas de milho, encontrou sua pele e seus
chifres.
Ela os vestiu novamente e se sacudiu com energia.
Cada parte do seu corpo retomou exatamente seu lugar dentro da pele.
Logo que as mulheres chegaram do mercado, ela saiu bufando.
Foi um tremendo massacre, pelo qual passaram todas.
Com grandes chifradas Iansã rasgou-lhes a barriga, pisou sobre os corpos e redou-os no ar.
Iansã poupou seus filhos que a seguiam chorando e dizendo:
"Nossa mãe, nossa mãe! É você mesma?
Nossa mãe, nossa mãe!! Que você vai fazer?
Nossa mãe, nossa mãe! !! Que será de nós?"
O búfalo os consolou, roçando seu corpo carinhosamente no deles e dizendo-lhes: "Eu vou
voltar para a floresta; lá não é um bom lugar para vocês.
Mas, vou lhes deixar uma lembrança."
Retirou seus chifres, entregou-lhes e continuou:
"Quando qualquer perigo lhes ameaçar, quando vocês precisarem dos meus conselhos,
esfreguem estes chifres um no outro.
Em qualquer lugar que vocês estiverem, em qualquer lugar que eu estiver, escutarei suas
queixas e virei socorrê-los."
Eis porque dois chifres de búfalo estão sempre no altar de Iansã.



Lendas retiradas do livro: LENDAS AFRICANAS DOS ORIXAS de PIERRE FATUMBI VERGER

Lendas Africanas - Sangô


Kawo Kabiecile!

Xangô era filho de Oranian, valoroso guerreiro, cujo corpo era preto à direita e branco à
esquerda.
Homem valente à direita, homem valente à esquerda.
Homem valente em casa, homem valente na guerra.
Oranian foi o fundador do Reino de Oyó, na terra dos iorubas.
Durante suas guerras, ele passava sempre por Empé, em território Tapá, também chamado
Nupê.
Elempê, o rei do lugar, fez uma aliança com Oranian e deu-lhe, também, sua filha em
casamento.
Desta união nasceu este filho vigoroso e forte, chamado Xangô.
Durante sua infância em Tapá, Xangô só pensava em encrenca. Encolerizava-se facilmente,
era impaciente, adorava dar ordens e não tolerava reclamação.
Xangô só gostava de brincadeira de guerra e de briga.
Comandando os pivetes da cidade, ele ia roubar os frutos das árvores. Crescido, seu caráter
valente o levou a partir em busca de aventuras gloriosas. Xangô tinha um oxé - machado de
duas lâminas; tinha, também, um saco de couro, pendurado no seu ombro esquerdo.
Nele encontravam-se os elementos do seu poder ou axé:
aquilo que ele engolia para cuspir fogo e amedrontar, assim, seus adversários,
e a pedra de raio com as quais ele destruía as casas de seus inimigos.
O primeiro lugar que Xangô visitou chamava-se Kossô.
Aí chegando, a pessoas assustadas disseram:
"Quem é este perigoso personagem?"
"Ele é brutal e petulante demais!"
"Não o queremos entre nós!"
"Ele vai atormentar-nos!"
"Ele vai maltratar-nos!"
"Ele vai espalhar a desordem na cidade!"
"Não o queremos entre nós!"
Mas Xangô os ameaçou com seu oxé.
Sua respiração virou fogo
e ele destruiu algumas casas com suas pedras de raio.
Todo mundo de Kossô veio pedir-lhe clemência, gritando:
Kabiyei Sango, Kawo Kabiyei Sango Obá Kossôf
"Vamos todos ver e saudar Xangô, Rei de Kossô!"

Quando Xangô tomou-se rei de Kossô, ele pôs-se à obra.
Contrariamente ao que as pessoas desconfiavam e temiam,
Xangô fazia as coisas com alma e dignidade.
Ele realizava trabalhos úteis à comunidade.
Mas esta vida calma não convinha a Xangô.
Ele adorava as viagens e as aventuras.
Assim, partiu novamente e chegou à cidade de Irê, onde morava Ogum.
Ogum o terrível guerreiro,
Ogum o poderoso ferreiro.
Ogum estava casado com Iansã, senhora dos ventos e das tempestades.
Ela ajudava Ogum em suas atividades.
Toda manhã, Iansã o acompanhava à forja e o ajudava, carregando suas ferramentas.
Era ela, ainda, que acionava os sopradores para atiçar o fogo.
O vento soprava e fazia: fuku, fuku, fuku.
E Ogum batia sobre a bigorna: beng, beng, beng ...
Xangô gostava de sentar-se ao lado da forja para ver Ogum trabalhar.
Vez por outra, ele olhava para Iansã.
Iansã, também, espiava furtivamente Xangô.
Xangô era vaidoso e cuidava muito da sua aparência, a ponto de trançar seus cabelos como os
de uma mulher.
Ele fizera furos nos lobos de suas orelhas, onde pendurava argolas.
Usava braceletes e colares de contas vermelhas e brancas.
Que elegância!
Muito impressionada pela distinção e pelo brilho de Xangô,
Iansã fugiu com ele e tomou-se sua primeira mulher.
Xangô voltou por pouco tempo a Kossô,
seguindo depois, com seus súditos, para o reino de Oyó,
o reino fundado, antigamente, por seu pai Oranian.
O trono estava ocupado por um meio-irmão de Xangô, mais velho que ele, chamado Dadá-
Ajaká - um rei pacífico, que amava a beleza e a arte.
Xangô instalou-se em Oyó, num novo bairro que chamou de Kossô.
E conservou, assim, seu título de Obá Kossô - "Rei de Kossô".
Xangô guerreava para seu irmão Dadá.
O reino de Oyó expandia-se para os quatro cantos do mundo.
Ele se estendeu para o Norte.
Ele se estendeu para o Sul.
Ele se estendeu para o Leste e ele se estendeu para o Oeste.
Xangô, então, destronou seu irmão Dadá-Ajaká e fez-se rei em seu lugar.
Kabiyei Sango Alafin Oyó Alayeluwa!
"Viva o Rei Xangô, dono do palácio de Oyó e Senhor do Mundo!"
Xangô construiu um palácio de cem colunas de bronze.
Ele tinha um exército de cem mil cavaleiros.
Vivia entre suas mulheres e seus filhos. lansã, sua primeira mulher, era bonita e ciumenta.
Oxum, sua segunda mulher, era coquete e dengosa.
Obá, sua terceira mulher, era robusta e trabalhadora.
Sete anos mais tarde, foi o fim do seu reino:
Xangô, acompanhado de lansã, subira à colina Igbeti, cuja vista dominava seu palácio de cem
colunas de bronze.
Ele queria experimentar uma nova fórmula que inventara para lançar raios.
Baoummm!!!
A fórmula era tão boa que destruiu todo o seu palácio!
Adeus mulheres, crianças, servos, riquezas, cavalos, bois e carneiros.
Tudo havia desaparecido fulminado, espalhado e reduzido a cinzas.
Xangô, desesperado, seguido apenas de lansã, voltou para Tapá.
Entretanto, chegando a Kossô, seu coração não suportou tanta tristeza. Xangô bateu
violentamente com os pés no chão e afundou-se terra adentro. lansã, solidária, fez o mesmo em
Irá.
Oxum e Obá transformaram-se em rios e todos tornaram-se orixás.
Xangô, orixá do trovão, Kawo Kabiyei le! lansã, orixá da tempestade, Êpa Heyi Oiá!
Oxum, orixá das águas doces, Orê Yeyê ô!



Lendas retiradas do livro: LENDAS AFRICANAS DOS ORIXAS de PIERRE FATUMBI VERGER

Lendas Africanas - Ossain

O senhor das folhas
Ewe Ewe!

Ossain recebera de Olodumaré o segredo das folhas.
Ele sabia que algumas delas traziam a calma ou o vigor.
Outras, a sorte, as glórias, as honras, ou, ainda, a miséria, as doenças e os acidentes.
Os outros orixás não tinham poder sobre nenhuma planta.
Eles dependiam de Ossain para manter a saúde ou para o sucesso de suas iniciativas.
Xangô, cujo temperamento é impaciente, guerreiro e imperioso, irritado com esta
desvantagem, usou de um ardil para tentar usurpar, de Ossain, a propriedade das folhas.
Falou do plano à sua esposa Iansã, a senhora dos ventos.
Explicou-lhe que, em certos dias,
Ossain pendurava, num galho de lroko,
uma cabaça contendo suas folhas mais poderosas.
"Desencadeie uma tempestade bem forte num desses dias", disse-lhe Xangô.
Iansã aceitou a missão com muito gosto.
O vento soprou a grandes rajadas, levando o telhado das casas, arrancando as árvores,
quebrando tudo por onde passava e,
o fim desejado, soltando a cabaça do galho onde estava pendurada.
A cabaça rolou para longe e todas as folhas voaram.
Os orixás se apoderaram de todas.
Cada um tomou-se dono de algumas delas,
mas Ossain permaneceu senhor do segredo de suas virtudes
e das palavras que devem ser pronunciadas para provocar sua ação.
E, assim, continuou a reinar sobre as plantas, como senhor absoluto.
Graças ao poder (axé) que possui sobre elas.



Lendas retiradas do livro: LENDAS AFRICANAS DOS ORIXAS de PIERRE FATUMBI VERGER

Lendas Africanas - Osossi

Okê Aro!!

Olofin era um rei africano da terra de Ifé, lugar de origem de todos os iorubas.
Cada ano, na época da colheita, Olofin comemorava, em seu reino, a Festa dos Inhames.
Ninguém no país podia comer dos novos inhames antes da festa.
Chegado o dia, o rei instalava-e no pátio.do seu palácio.
Suas mulheres sentavam-se à sua direita, seus ministros sentavam-se à sua esquerda,
seus escravos sentavam-se atrás dele, agitando leques e espanta-moscas, e os tambores
soavam para saudá-lo.
As pessoas reunidas comiam inhame pilado e bebiam vinho de palma.
Elas comemoravam e brincavam.
De repente, um enorme pássaro voou sobre a festa.
O pássaro voava à direita e voava à esquerda ...
Até que veio pousar sobre o teto do palácio.
A estranha ave fora enviada pelas feiticeiras,
furiosas porque não foram também convidadas para a festa.
O pássaro causava espanto a todos!
Era tão grande que o rei pensou ser uma nuvem cobrindo a cidade.
Sua asa direita cobria o lado esquerdo do palácio, sua asa esquerda cobria o lado direito do
palácio, as penas do seu rabo varriam o quintal e sua cabeça, o portal da entrada.
As pessoas assustadas comentavam:
"Ah! Que esquisita surpresa?"
"Eh! De onde veio este desmancha-prazer?"
"lh! O que veio fazer aqui?"
"Oh! Bicho feio de dar dó!"
"Uh! Sinistro que nem urubu!"
"Como nos livraremos dele?"
"Vamos, rápido, chamar os caçadores mais hábeis do reino."
De ldô, trouxeram Oxotogun, o "Caçador das vinte flechas".
O rei lhe ordenou matar o pássaro com suas vinte flechas.
Oxotogun afirmou:
"Que me cortem a cabeça se eu não o matar!"
E lançou suas vinte flechas, mas nenhuma atingiu o enorme pássaro.
O rei mandou prendê-lo.
De Morê, chegou Oxotogí, o "Caçador das quarenta flechas".
O rei lhe ordenou matar o pássaro com suas quarenta flechas.
Oxotogí afirmou:
"Que me condenem à morte, se eu não o matar!"
E lançou suas quarenta flechas, mas nenhuma atingiu o pássaro.

o rei mandou prendê-lo.
De Ilarê, apresentou-se Oxotadotá, o "Caçador das cinquenta flechas". Oxotodotá afirmou:
"Que exterminem toda a minha fanulia, se eu não o matar".
Lançou suas cinquenta flechas e nenhuma atingiu o pássaro.
O rei mandou prendê-lo.
De Iremã, chegou, finalmente, Oxotokanxoxô, o "Caçador de uma flecha só". O rei lhe
ordenou matar o pássaro com sua única flecha.
Oxotokanxoxô afirmou:
"Que me cortem em pedaços se eu não o matar!"
Ouvindo isto, a mãe de Oxotokanxoxô, que não tinha outros filhos, foi rápido consultar um
babalaô, o adivinho, e saber o que fazer para ajudar seu único filho.
"Ah! - disse-lhe o babalaô.
"Seu filho está a um passo da morte ou da riqueza.
Faça uma oferenda e a morte tomar-se-á riqueza."
E ensinou-lhe como fazer uma oferenda que agradasse às feiticeiras.
A mãe sacrificou, então, uma galinha, abrindo-lhe o peito, e foi, rápido, colocar na estrada,
gritando três vezes:
"Que o peito do pássaro aceite este presente!"
Foi no momento exato que Oxotokanxoxô atirava sua única flecha.
O feitiço pronunciado pela mãe do caçador chegou ao grande pássaro.
Ele quis receber a oferenda e relaxou o encanto que o protegera até então.
A flecha de Oxotokanxoxô o atingiu em pleno peito.
O pássaro caiu pesadamente, se debateu e morreu.
A notícia espalhou-se:
"Foi Oxotokanxoxô, o "Caçador de uma flecha só", que matou o pássaro!
O Rei lhe fez uma promessa, se ele o conseguisse!
Ele ganhará a metade da sua fortuna!
Todas as riquezas do reino serão divididas ao meio, e uma metade será dada a Oxotokanxoxô!
!" Os três caçadores foram soltos da prisão e, como recompensa,
Oxotogun, o "Caçador das vinte flechas", ofereceu a Oxotokanxoxô vinte sacos de búzios;
Oxotogí, o "Caçador das quarenta flechas", ofereceu-lhe quarenta sacos; Oxotadotá, o
"Caçador das cinquenta flechas", ofereceu-lhe cinquenta.
E todos cantaram para Oxotokanxoxô.
O babalaô, também, juntou-se a eles, cantando e batendo em seu agogô:
"Oxowusi! Oxowusi!! Oxowusi!!!
"O caçador Oxo é popular!"
E assim é que Oxotokanxoxô foi chamado Oxowusi.
Oxowusi! Oxowui!! Oxowusi!!!



Lendas retiradas do livro: LENDAS AFRICANAS DOS ORIXAS de PIERRE FATUMBI VERGER

Lendas Africanas - Esu


Laroyê!

Exu é o mais sutil e o mais astuto de todos os orixás.
Ele aproveita-se de suas qualidades para provocar mal-entendidos e discussões entre as
pessoas ou para preparar-lhes armadilhas.
Ele pode fazer coisas extraordinárias como, por exemplo, carregar, numa peneira, o óleo que
comprou no mercado, sem que este óleo se derrame desse estranho recipiente!
Exu pode ter matado um pássaro ontem, com uma pedra que jogou hoje!
Se zanga-se, ele sapateia uma pedra na floresta, e esta pedra põe-se a sangrar!
Sua cabeça é pontuda e afiada como a lâmina de uma faca.
Ele nada pode transportar sobre ela.
Exu pode também ser muito malvado, se as pessoa se esquecem de homenageá-lo. É
necessário, pois, fazer sempre oferendas a Exu, antes de qualquer outro orixá.
A segunda-feira é o dia da semana que lhe é consagrado.
É bom fazer-lhe oferendas neste dia,
de farofa, azeite de dendê, cachaça e um galo preto.
Certa vez, dois amigos de infância, que jamais discutiam,
esqueceram-se, numa segunda-feira, de fazer-lhe as oferendas devidas. Foram
para o campo trabalhar, cada um na sua roça.
As terras eram vizinhas, separadas apenas por um estreito canteiro.
Exu, zangado pela negligência dos dois amigos, decidiu preparar-lhes um golpe à sua maneira.
Ele colocou sobre a cabeça um boné pontudo
que era branco do lado direito e vermelho do lado esquerdo.
Depois, seguiu o canteiro, chegando à altura dos dois trabalhadores amigos e, muito
educadamente, cumprimentou -os:
"Bom trabalho, meus amigos!"
Estes, gentilmente, responderam-lhe:
"Bom passeio, nobre estrangeiro!"
Assim que Exu afastou-se, o homem que trabalhava no campo à direita, falou para o seu
companheiro:
"Quem pode ser este personagem de boné branco?"
"Seu chapéu era vermelho", respondeu o homem do campo à esquerda.
"Não, ele era branco, de um branco de alabastro, o mais belo branco que existe! "
"Ele era vermelho, um vermelho escarlate, de fulgor insustentável!"
"Ele era branco, tratas-me de mentiroso?"
"Ele era vermelho, ou pensas que sou cego?"

Cada um dos amigos tinha razão e estava furioso da desconfiança do outro. Irritados, eles
agarraram-se e começaram a bater-se até matarem-se a golpes de enxada.
Exu estava vingado!
Isto não teria acontecido se as oferendas a Exu não tivessem sido negligenciadas.
Pois Exu pode ser o mais benevolente dos orixás se é tratado com consideração e
generosidade.
Há uma maneira hábil de obter um favor de Exu.
É preparar-lhe um golpe mais astuto que-aqueles que ele mesmo prepara.
Conta-se que Aluman estava desesperado com uma grande seca. Seus campos estavam áridos,
a chuva não caía.
As rãs choravam de tanta sede e os rios
estavam cobertos de folhas mortas, caídas das árvores. Nenhum orixá invocado escutou suas
queixas e gemidos.
Aluman decidiu, então, oferecer a Exu grandes pedaços de carne de bode. Exu comeu com
apetite desta excelente oferenda.
Só que Aluman havia temperado a carne com um molho muito apimentado. Exu teve sede.
Uma sede tão grande que toda a água de todas as jarras que ele tinha em casa, e que tinham,
em suas casas, os vizinhos, não foi suficiente para matar sua sede!
Exu foi à torneira da chuva e abriu-a sem pena.
A chuva caiu.
Ela caiu de dia, ela caiu de noite.
Ela caiu no dia seguinte e no dia de depois, sem parar. Os campos de Aluman tomaram-se
verdes.
Todos os vizinhos de Aluman cantaram sua glória:
”Joro, jara, joro Aluman,
Dono dos dendezeiros, cujos cachos são abundantes! Joro, jara, joro Aluman,
Dono dos campos de milho, cujas espigas são pesadas! Joro, jara, joro Aluman,
Dono dos campos de feijão, inhame e mandioca! Joro, jara, joro Aluman! ”
E as rãzinhas gargarejavam e coaxavam, e o rio corria velozmente para não transbordar!
Aluman, reconhecido, ofereceu a Exu carne de bode com o tempero no ponto certo da pimenta.
Havia chovido bastante. Mais, seria desastroso!
Pois, em todas as coisa, o demais é inimigo do bom.


Lendas retiradas do livro: LENDAS AFRICANAS DOS ORIXAS de PIERRE FATUMBI VERGER

Lendas Africanas - Ogun


Ogum Yêêê!

Ogum era o mais velho e o mais combativo dos filhos de Odudua, o conquistador e rei de Ifé.
Por isto, tomou-se o regente do reino quando Odudua, momentaneamente, perdeu a visão.
Ogum era guerreiro sanguinário e temível.
"Ogum, o valente guerreiro, o homem louco dos músculos de aço!
Ogum, que tendo água em casa, lava-se com sangue!"
Ogum lutava sem cessar contra os reinos vizinhos.
Ele trazia sempre um rico espólio de suas expedições, além de numerosos escravos.
Todos estes bens conquistados, ele entregava a Odudua, seu pai, rei de Ifé.
"Ogum o violento guerreiro, o homem louco, dos músculos de aço.
Ogum, que tendo água em casa, lava-se com sangue!"
Ogum teve muitas aventuras galantes.
Ele conheceu uma senhora, chamada Elefunlosunlori" aquela-que-pinta-a-cabeça-com-póbranco-
e-vemelho.',
Era a mulher de Orixá Okô, o deus da Agricultura.
De outra feita, indo para a guerra, Ogum encontrou, à margem de um riacho, uma outra mulher,
chamada Ojá, e com ela teve o filho Oxóssi.
Teve, também, três outras mulheres que tomaram-se, depois, mulheres de Xangô,
Kawo Kabieyesi Alafin Oyó Alayeluwa!
Saudemos o Rei Xangô, o dono do palácio de Oyó, Senhor do Mundo!"
A primeira, Iansã, era bela e fascinante; a segunda, Oxum, era coquete e vaidosa; a terceira,
Obá, era vigorosa e invencível na luta.

Ogum continuou suas guerras. Durante uma delas, ele tomou Irê.
Antigamente, esta cidade era formada por sete aldeias.
Por isto chamam-no, ainda hoje, Ogum mejejê lodê lrê "Ogum das sete partes de Irê"
Ogum matou o rei Onirê e o substituiu pelo próprio filho, conservando para si o título de Rei.
Ele é saudado como Ogum Onirê! "Ogum Rei de Irê!"
Entretanto, ele foi autorizado a usar apenas uma pequena coroa, "akorô".
Daí ser chamado, também, de Ogum Alakorô - "Ogum dono da pequena coroa".
Após instalar seu filho no trono de Irê,
Ogum voltou a guerrear por muitos anos.
Quando voltou a Irê, após longa ausência, ele não reconheceu o lugar.
Por infelicidade, no dia de sua chegada, celebrava-se uma cerimônia, na qual todo mundo
devia guardar silêncio completo.
Ogum tinha fome e sede.
Ele viu as jarras de vinho de palma, mas não sabia que elas estavam vazias.
O silêncio geral pareceu-lhe sinal de desprezo.
Ogum, cuja paciência é curta, encolerizou-se.
Quebrou as jarras com golpes de espada e cortou a cabeça das pessoas.
A cerimônia tendo acabado, apareceu, finalmente, o filho de Ogum
e ofereceu-lhe seus pratos prediletos:
caracóis e feijão, regados com dendê;
tudo acompanhado de muito vinho de palma.
"Ogum, violento guerreiro, o homem louco dos músculos de aço.
Ogum, que tendo água em casa, lava-se com sangue!"
"Os prazeres de Ogum são o combate e as brigas.
O terrível orixá, que morde a si mesmo sem dó!
Ogum mata o marido no fogo e a mulher no fogareiro.
Ogum mata o ladrão e o proprietário da coisa roubada!"
Ogum, arrependido e calmo, lamentou seus atos de violência,
e disse que já vivera bastante,
que viera agora o tempo de repousar.
Ele baixou, então, sua espada e desapareceu sob a terra.
Ogum tomara-se um orixá


Lendas retiradas do livro: LENDAS AFRICANAS DOS ORIXAS de PIERRE FATUMBI VERGER