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sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Carta de Yemanjá a sua filha

Hoje eu saí do mar para falar especialmente com você.

Já venho há algum tempo tentando falar com você através dessas escritas, e venho observando o teu comportamento sobre as coisas que estão acontecendo em tua vida.
Escolhi a pérola mais linda do mundo, te vesti de esperança, e te coloquei no mundo, para você aprender a andar… Até então você morava aqui comigo. 
Mas Olorum lhe deu uma missão, a qual tem de ser cumprida, e desde então, fiquei responsável por você aqui na terra. Sei que é difícil para você as vezes viver aqui, pois você as vezes sente que não é daqui, sente-se sozinha, acha que sempre está incomodando os que estão ao seu redor, e sendo assim, você entra em uma tristeza profunda, e só sabe chorar e me chamar.
Meu coração aperta, pois você é minha filha, aquela que eu movo mares e mares para te defender de todo o mal que te cerca. Mas você precisa aprender a viver assim ! Você ultimamente tem se decepcionado muito, se magoado muito, e dado muita importância á coisas que não merece sua atenção. E isso têm te distraído da sua verdadeira missão…
Você me chama com frequência e as vezes acha até que não te ouço, mas eu te ouço sim, ouço cada súplica sua, vejo cada lágrima sua, e tento sempre te mostrar que você precisa ser mais madura. 
Minha filha, o mundo é cheio de maldades, há seres humanos que só querem fazer o mal, e por muitas vezes você com seu coração ingênuo, acaba caindo, porque não acredita na maldade do ser humano. Mas eu sempre tô tentando te mostrar… Sempre tô te levantando, sempre tô enxugando tuas lágrimas, e movendo meus mares para te purificar.
Eu preciso que você seja forte, eu preciso que você se doe menos, e se ame mais. Eu preciso disso, minha filha. Eu preciso que você aprenda a ser mais maliciosa em relação ao mundo.
Sei o quanto é difícil, mas você consegue, eu estou ao seu lado.
Não estou mandando você mudar o seu jeito meigo, acolhedor de ser, afinal, você é minha filha, e é o meu reflexo. Mas eu preciso que você preste mais atenção nas pessoas, nem todas elas irão querer o seu bem, nem todas elas virão na intenção de te levantar / ajudar.
Então preciso que seja forte, que chore em casa, mas que vá guerrear na rua.
Você nunca estará sozinha, nunca !
Levante essa cabeça, renove sua fé, e lembre-se : o mar sempre estará em você!

domingo, 4 de agosto de 2019

Lendas Africanas - Yemanjá

Odô Iyâ Yemanjá Ataramagbá,
ajejê lodõ, ajejê nilê!

Iemanjá era a filha de Olokum, a deusa do mar.
Em Ifé, ela tornou-se a esposa de Olofin-Odudua, com o qual teve dez filhos.
Estas crianças receberam nomes simbólicos e todos tomaram-se orixás. Um deles foi chamado
Oxumaré, o Arco-Íris, "aquele-que-se-desloca-com-a-chuva-e-revela-seus-segredos".
De tanto amamentar seus filhos, os seios de Iemanjá tornaram-se imensos.
Cansada da sua estadia em Ifé,
Iemanjá fugiu na direção do "entardecer-da-terra", como os iorubas designam o Oeste,
chegando a Abeokutá.
Ao norte de Abeokutá, vivia Okere, rei de Xaki.
Iemanjá continuava muito bonita.
Okere desejou-a e propôs-lhe casamento.
Iemanjá aceitou mas, impondo uma condição, disse-lhe:
"Jamais você ridicularizará da imensidão dos meu seios."
Okere, gentil e polido, tratava Iemanjá com consideração e respeito.
Mas, um dia, ele bebeu vinho de palma em excesso.
Voltou para casa bêbado e titubeante.
Ele não sabia mais o que fazia.
Ele não sabia mais o que dizia.
Tropeçando em Iemanjá, esta chamou-o de bêbado e imprestável.
Okere, vexado, gritou:
"Você, com seus seios compridos e balançantes!
Você, com seus seios grandes e trêmulos!"
Iemanjá, ofendida, fugiu em disparada.
Certa vez, antes do seu primeiro casamento,
Iemanjá recebera de sua mãe, Olokum,
uma garrafa contendo uma poção mágica pois, dissera-lhe esta:
"Nunca se sabe o que pode acontecer amanhã.
Em caso de necessidade, quebre a garrafa, jogando-a no chão."
Em sua fuga, Iemanjá tropeçou e caiu.
A garrafa quebrou-se e dela nasceu um rio.

As águas tumultuadas deste rio levaram Iemanjá em direção ao oceano, residência de sua mãe
Olokum.
Okere, contrariado, queria impedir a fuga de sua mulher.
Querendo barrar-lhe o caminho, ele transformou-se numa colina, chamada, ainda hoje, Okere,
e colocou-se no seu caminho.
Iemanjá quis passar pela direita, Okere deslocou-se para a direita.
Iemanjá quis passar pela esquerda, Okere deslocou-se para a esquerda.
Iemanjá, vendo assim bloqueado seu caminho para a casa materna, chamou Xangô, o mais
poderoso dos seus filhos.
Kawo Kabiyesi Sango, Kawo Kabiyesi Obá Kossôl "
Saudemos o Rei Xangô, saudemos o Rei de Kossô!"
Xangô veio com dignidade e seguro do seu poder. ele pediu uma oferenda de um carneiro e
quatro galos, um prato de "amalá", preparado com farinha de inhame, e um prato de
"gbeguiri", feito com feijão e cebola.
E declarou que, no dia seguinte, Iemanjá encontraria por onde passar.
Nesse dia, Xangô desfez todos os nós que prendiam as amarras da chuva. Começaram a
aparecer nuvens dos lados da manhã e da tarde do dia.
Começaram a aparecer nuvens da direita e da esquerda do dia.
Quando todas elas estavam reunidas, chegou Xangô com seu raio.
Ouviu-se então: Kakara rá rá rá ...
Ele havia lançado seu raio sobre a colina Okere.
Ela abriu-se em duas e, suichchchch ...
Iemanjá foi-se para o mar de sua mãe Olokum.
Aí ficou e recusa-se, desde então, a voltar em terra.
Seus filhos chamam-na e saúdam-na:
”Odo Iyá, a Mãe do rio, ela não volta mais.
Iemanjá, a rainha das águas, que usa roupas cobertas de pérolas."
Ela tem filhos no mundo inteiro.
Iemanjá está em todo lugar onde o mar vem bater-se com suas ondas espumantes. Seus filhos
fazem oferendas para acalmá-Ia e agradá-la.
Odô Iyá, Yemanjá, Ataramagbá Ajejê lodôl Ajejê nilêl
"Mãe das águas, Iemanjá, que estendeu-se ao longe na amplidão.
Paz nas águas! Paz na casa!"



Lendas retiradas do livro: LENDAS AFRICANAS DOS ORIXAS de PIERRE FATUMBI VERGER