domingo, 4 de agosto de 2019

Lendas Africanas - Osossi

Okê Aro!!

Olofin era um rei africano da terra de Ifé, lugar de origem de todos os iorubas.
Cada ano, na época da colheita, Olofin comemorava, em seu reino, a Festa dos Inhames.
Ninguém no país podia comer dos novos inhames antes da festa.
Chegado o dia, o rei instalava-e no pátio.do seu palácio.
Suas mulheres sentavam-se à sua direita, seus ministros sentavam-se à sua esquerda,
seus escravos sentavam-se atrás dele, agitando leques e espanta-moscas, e os tambores
soavam para saudá-lo.
As pessoas reunidas comiam inhame pilado e bebiam vinho de palma.
Elas comemoravam e brincavam.
De repente, um enorme pássaro voou sobre a festa.
O pássaro voava à direita e voava à esquerda ...
Até que veio pousar sobre o teto do palácio.
A estranha ave fora enviada pelas feiticeiras,
furiosas porque não foram também convidadas para a festa.
O pássaro causava espanto a todos!
Era tão grande que o rei pensou ser uma nuvem cobrindo a cidade.
Sua asa direita cobria o lado esquerdo do palácio, sua asa esquerda cobria o lado direito do
palácio, as penas do seu rabo varriam o quintal e sua cabeça, o portal da entrada.
As pessoas assustadas comentavam:
"Ah! Que esquisita surpresa?"
"Eh! De onde veio este desmancha-prazer?"
"lh! O que veio fazer aqui?"
"Oh! Bicho feio de dar dó!"
"Uh! Sinistro que nem urubu!"
"Como nos livraremos dele?"
"Vamos, rápido, chamar os caçadores mais hábeis do reino."
De ldô, trouxeram Oxotogun, o "Caçador das vinte flechas".
O rei lhe ordenou matar o pássaro com suas vinte flechas.
Oxotogun afirmou:
"Que me cortem a cabeça se eu não o matar!"
E lançou suas vinte flechas, mas nenhuma atingiu o enorme pássaro.
O rei mandou prendê-lo.
De Morê, chegou Oxotogí, o "Caçador das quarenta flechas".
O rei lhe ordenou matar o pássaro com suas quarenta flechas.
Oxotogí afirmou:
"Que me condenem à morte, se eu não o matar!"
E lançou suas quarenta flechas, mas nenhuma atingiu o pássaro.

o rei mandou prendê-lo.
De Ilarê, apresentou-se Oxotadotá, o "Caçador das cinquenta flechas". Oxotodotá afirmou:
"Que exterminem toda a minha fanulia, se eu não o matar".
Lançou suas cinquenta flechas e nenhuma atingiu o pássaro.
O rei mandou prendê-lo.
De Iremã, chegou, finalmente, Oxotokanxoxô, o "Caçador de uma flecha só". O rei lhe
ordenou matar o pássaro com sua única flecha.
Oxotokanxoxô afirmou:
"Que me cortem em pedaços se eu não o matar!"
Ouvindo isto, a mãe de Oxotokanxoxô, que não tinha outros filhos, foi rápido consultar um
babalaô, o adivinho, e saber o que fazer para ajudar seu único filho.
"Ah! - disse-lhe o babalaô.
"Seu filho está a um passo da morte ou da riqueza.
Faça uma oferenda e a morte tomar-se-á riqueza."
E ensinou-lhe como fazer uma oferenda que agradasse às feiticeiras.
A mãe sacrificou, então, uma galinha, abrindo-lhe o peito, e foi, rápido, colocar na estrada,
gritando três vezes:
"Que o peito do pássaro aceite este presente!"
Foi no momento exato que Oxotokanxoxô atirava sua única flecha.
O feitiço pronunciado pela mãe do caçador chegou ao grande pássaro.
Ele quis receber a oferenda e relaxou o encanto que o protegera até então.
A flecha de Oxotokanxoxô o atingiu em pleno peito.
O pássaro caiu pesadamente, se debateu e morreu.
A notícia espalhou-se:
"Foi Oxotokanxoxô, o "Caçador de uma flecha só", que matou o pássaro!
O Rei lhe fez uma promessa, se ele o conseguisse!
Ele ganhará a metade da sua fortuna!
Todas as riquezas do reino serão divididas ao meio, e uma metade será dada a Oxotokanxoxô!
!" Os três caçadores foram soltos da prisão e, como recompensa,
Oxotogun, o "Caçador das vinte flechas", ofereceu a Oxotokanxoxô vinte sacos de búzios;
Oxotogí, o "Caçador das quarenta flechas", ofereceu-lhe quarenta sacos; Oxotadotá, o
"Caçador das cinquenta flechas", ofereceu-lhe cinquenta.
E todos cantaram para Oxotokanxoxô.
O babalaô, também, juntou-se a eles, cantando e batendo em seu agogô:
"Oxowusi! Oxowusi!! Oxowusi!!!
"O caçador Oxo é popular!"
E assim é que Oxotokanxoxô foi chamado Oxowusi.
Oxowusi! Oxowui!! Oxowusi!!!



Lendas retiradas do livro: LENDAS AFRICANAS DOS ORIXAS de PIERRE FATUMBI VERGER

Lendas Africanas - Esu


Laroyê!

Exu é o mais sutil e o mais astuto de todos os orixás.
Ele aproveita-se de suas qualidades para provocar mal-entendidos e discussões entre as
pessoas ou para preparar-lhes armadilhas.
Ele pode fazer coisas extraordinárias como, por exemplo, carregar, numa peneira, o óleo que
comprou no mercado, sem que este óleo se derrame desse estranho recipiente!
Exu pode ter matado um pássaro ontem, com uma pedra que jogou hoje!
Se zanga-se, ele sapateia uma pedra na floresta, e esta pedra põe-se a sangrar!
Sua cabeça é pontuda e afiada como a lâmina de uma faca.
Ele nada pode transportar sobre ela.
Exu pode também ser muito malvado, se as pessoa se esquecem de homenageá-lo. É
necessário, pois, fazer sempre oferendas a Exu, antes de qualquer outro orixá.
A segunda-feira é o dia da semana que lhe é consagrado.
É bom fazer-lhe oferendas neste dia,
de farofa, azeite de dendê, cachaça e um galo preto.
Certa vez, dois amigos de infância, que jamais discutiam,
esqueceram-se, numa segunda-feira, de fazer-lhe as oferendas devidas. Foram
para o campo trabalhar, cada um na sua roça.
As terras eram vizinhas, separadas apenas por um estreito canteiro.
Exu, zangado pela negligência dos dois amigos, decidiu preparar-lhes um golpe à sua maneira.
Ele colocou sobre a cabeça um boné pontudo
que era branco do lado direito e vermelho do lado esquerdo.
Depois, seguiu o canteiro, chegando à altura dos dois trabalhadores amigos e, muito
educadamente, cumprimentou -os:
"Bom trabalho, meus amigos!"
Estes, gentilmente, responderam-lhe:
"Bom passeio, nobre estrangeiro!"
Assim que Exu afastou-se, o homem que trabalhava no campo à direita, falou para o seu
companheiro:
"Quem pode ser este personagem de boné branco?"
"Seu chapéu era vermelho", respondeu o homem do campo à esquerda.
"Não, ele era branco, de um branco de alabastro, o mais belo branco que existe! "
"Ele era vermelho, um vermelho escarlate, de fulgor insustentável!"
"Ele era branco, tratas-me de mentiroso?"
"Ele era vermelho, ou pensas que sou cego?"

Cada um dos amigos tinha razão e estava furioso da desconfiança do outro. Irritados, eles
agarraram-se e começaram a bater-se até matarem-se a golpes de enxada.
Exu estava vingado!
Isto não teria acontecido se as oferendas a Exu não tivessem sido negligenciadas.
Pois Exu pode ser o mais benevolente dos orixás se é tratado com consideração e
generosidade.
Há uma maneira hábil de obter um favor de Exu.
É preparar-lhe um golpe mais astuto que-aqueles que ele mesmo prepara.
Conta-se que Aluman estava desesperado com uma grande seca. Seus campos estavam áridos,
a chuva não caía.
As rãs choravam de tanta sede e os rios
estavam cobertos de folhas mortas, caídas das árvores. Nenhum orixá invocado escutou suas
queixas e gemidos.
Aluman decidiu, então, oferecer a Exu grandes pedaços de carne de bode. Exu comeu com
apetite desta excelente oferenda.
Só que Aluman havia temperado a carne com um molho muito apimentado. Exu teve sede.
Uma sede tão grande que toda a água de todas as jarras que ele tinha em casa, e que tinham,
em suas casas, os vizinhos, não foi suficiente para matar sua sede!
Exu foi à torneira da chuva e abriu-a sem pena.
A chuva caiu.
Ela caiu de dia, ela caiu de noite.
Ela caiu no dia seguinte e no dia de depois, sem parar. Os campos de Aluman tomaram-se
verdes.
Todos os vizinhos de Aluman cantaram sua glória:
”Joro, jara, joro Aluman,
Dono dos dendezeiros, cujos cachos são abundantes! Joro, jara, joro Aluman,
Dono dos campos de milho, cujas espigas são pesadas! Joro, jara, joro Aluman,
Dono dos campos de feijão, inhame e mandioca! Joro, jara, joro Aluman! ”
E as rãzinhas gargarejavam e coaxavam, e o rio corria velozmente para não transbordar!
Aluman, reconhecido, ofereceu a Exu carne de bode com o tempero no ponto certo da pimenta.
Havia chovido bastante. Mais, seria desastroso!
Pois, em todas as coisa, o demais é inimigo do bom.


Lendas retiradas do livro: LENDAS AFRICANAS DOS ORIXAS de PIERRE FATUMBI VERGER

Lendas Africanas - Ogun


Ogum Yêêê!

Ogum era o mais velho e o mais combativo dos filhos de Odudua, o conquistador e rei de Ifé.
Por isto, tomou-se o regente do reino quando Odudua, momentaneamente, perdeu a visão.
Ogum era guerreiro sanguinário e temível.
"Ogum, o valente guerreiro, o homem louco dos músculos de aço!
Ogum, que tendo água em casa, lava-se com sangue!"
Ogum lutava sem cessar contra os reinos vizinhos.
Ele trazia sempre um rico espólio de suas expedições, além de numerosos escravos.
Todos estes bens conquistados, ele entregava a Odudua, seu pai, rei de Ifé.
"Ogum o violento guerreiro, o homem louco, dos músculos de aço.
Ogum, que tendo água em casa, lava-se com sangue!"
Ogum teve muitas aventuras galantes.
Ele conheceu uma senhora, chamada Elefunlosunlori" aquela-que-pinta-a-cabeça-com-póbranco-
e-vemelho.',
Era a mulher de Orixá Okô, o deus da Agricultura.
De outra feita, indo para a guerra, Ogum encontrou, à margem de um riacho, uma outra mulher,
chamada Ojá, e com ela teve o filho Oxóssi.
Teve, também, três outras mulheres que tomaram-se, depois, mulheres de Xangô,
Kawo Kabieyesi Alafin Oyó Alayeluwa!
Saudemos o Rei Xangô, o dono do palácio de Oyó, Senhor do Mundo!"
A primeira, Iansã, era bela e fascinante; a segunda, Oxum, era coquete e vaidosa; a terceira,
Obá, era vigorosa e invencível na luta.

Ogum continuou suas guerras. Durante uma delas, ele tomou Irê.
Antigamente, esta cidade era formada por sete aldeias.
Por isto chamam-no, ainda hoje, Ogum mejejê lodê lrê "Ogum das sete partes de Irê"
Ogum matou o rei Onirê e o substituiu pelo próprio filho, conservando para si o título de Rei.
Ele é saudado como Ogum Onirê! "Ogum Rei de Irê!"
Entretanto, ele foi autorizado a usar apenas uma pequena coroa, "akorô".
Daí ser chamado, também, de Ogum Alakorô - "Ogum dono da pequena coroa".
Após instalar seu filho no trono de Irê,
Ogum voltou a guerrear por muitos anos.
Quando voltou a Irê, após longa ausência, ele não reconheceu o lugar.
Por infelicidade, no dia de sua chegada, celebrava-se uma cerimônia, na qual todo mundo
devia guardar silêncio completo.
Ogum tinha fome e sede.
Ele viu as jarras de vinho de palma, mas não sabia que elas estavam vazias.
O silêncio geral pareceu-lhe sinal de desprezo.
Ogum, cuja paciência é curta, encolerizou-se.
Quebrou as jarras com golpes de espada e cortou a cabeça das pessoas.
A cerimônia tendo acabado, apareceu, finalmente, o filho de Ogum
e ofereceu-lhe seus pratos prediletos:
caracóis e feijão, regados com dendê;
tudo acompanhado de muito vinho de palma.
"Ogum, violento guerreiro, o homem louco dos músculos de aço.
Ogum, que tendo água em casa, lava-se com sangue!"
"Os prazeres de Ogum são o combate e as brigas.
O terrível orixá, que morde a si mesmo sem dó!
Ogum mata o marido no fogo e a mulher no fogareiro.
Ogum mata o ladrão e o proprietário da coisa roubada!"
Ogum, arrependido e calmo, lamentou seus atos de violência,
e disse que já vivera bastante,
que viera agora o tempo de repousar.
Ele baixou, então, sua espada e desapareceu sob a terra.
Ogum tomara-se um orixá


Lendas retiradas do livro: LENDAS AFRICANAS DOS ORIXAS de PIERRE FATUMBI VERGER